terça-feira, 10 de setembro de 2013

Calagem

A grande maioria dos solos brasileiros, notadamente
aqueles em que estão ocorrendo a expansão da fronteira agrícola,
como os solos sob cerrados, apresenta características de acidez,
toxidez de Al e/ou Mn e também baixos níveis de Ca e Mn.
Para incorporação destes solos ao processo produtivo brasileiro,
é imprescindível a correção desses problemas através da prática da calagem que é a maneira mais simples para atingir este objetivo.
Além do mais, o calcário é um insumo relativamente barato, abundante
no País, essencial para o aumento da produtividade, de tecnologia de produção simples e, sobretudo, poucas práticas agrícolas dão
 retornos tão elevados a curto prazo.

A calagem é considerada como uma das práticas que mais contribui para o aumento da eficiência dos adubos e consequentemente, da produtividade e da rentabilidade agropecuária. Apesar deste fato, ela ainda é subutilizada, tendo em vista a pouca informação recebida a nível de campo, pelos lavradores.

PORQUE OS SOLOS ÁCIDOS DEVEM RECEBER CALAGEM ?

A acidez do solo afeta o crescimento das plantas de várias formas. Sempre que o pH é baixo, um ou mais efeitos podem afetar o crescimento das culturas:
1 - Concentração de elementos tais como o Al e o Mn, podem atingir níveis tóxicos, porque sua solubilidade aumenta nos solos ácidos;
2 - Os organismos responsáveis pela decomposição da matéria orgânica e pela liberação de nitrogênio, fósforo e enxofre podem estar em pequeno número e com pouca atividade;
3 - O Ca2+ pode ser deficiente quando a CTC do solo é baixa. O mesmo pode acontecer como o Mg;
4 - A fixação simbiótica de N pelas leguminosas é severamente reduzida. A fixação simbiótica requer uma amplitude de pH mais estreita para o crescimento ótimo das plantas do que no caso de plantas não fixadoras de N. A bactéria simbiótica da soja é mais eficiente em pH variando de 6,0 a 6,2.
5 - Os solos argilosos, com alta acidez, são menos agregados. Isto causa baixa permeabilidade e aeração, um efeito indireto, motivo pelo qual os solos que receberam calagem produzem mais resíduos das culturas. Os resíduos favorecem a estrutura;
6 - A disponibilidade de nutrientes como o P e o Mo é diminuída.
A calagem dos solos ácidos corrige essas condições anteriores. Ela também diminui a tendência de lixiviação do potássio. Os calcários magnesianos e dolomítico fornecem cálcio e magnésio, sendo ambos essenciais para o crescimento das plantas.

COMO O CALCÁRIO REDUZ ACIDEZ DO SOLO?
Os processos e as reações pelos quais o calcário reduz a acidez do solo são muito complexos, mas uma simplificação é apresentada a seguir:
Como foi mencionado anteriormente, o pH de um solo é uma expressão da atividade do íon H+. O calcário reduz a acidez do solo (eleva o pH) pela conversão de alguns desses íons H+ em água.
 A reação acontece assim:

Solo-H + CaCO3 ? Solo-Ca + H2O + CO2

Lembre-se de que o inverso desse processo também pode ocorrer. Um solo ácido pode tornar-se mais ácido se um programa de calagem não for seguido. À medida que os íons básicos como Ca2+, Mg2+ e K+ são removidos, geralmente por absorção pelas culturas, eles podem ser substituídos por H+. Estes íons básicos também podem ser perdidos por lixiviação, novamente sendo substituídos por H+. A atividade do H+ aumentará continuamente, abaixando o pH do solo, se não for feita a calagem adequada.

ÉPOCA E FREQUÊNCIA DAS APLICAÇÕES DE CALCÁRIO

Para rotações que incluem leguminosas, o calcário deve ser aplicado entre três a seis meses antes da semeadura, especialmente em solos muito ácidos. A calagem feita poucos dias antes do plantio da alfafa ou do trevo, por exemplo, geralmente produz resultados decepcionantes, porque o calcário pode não ter tido tempo suficiente para reagir com o solo.
Se uma leguminosa como o trevo é plantada após o trigo de outono, o calcário deve ser aplicado no plantio do trigo. Independente da cultura, o calcário deve ser aplicado com a devida antecedência ao plantio para permitir a reação com o solo.
As formas cáusticas de calcário (óxido de cálcio e hidróxido de cálcio) devem ser espalhadas com bastante antecedência ao plantio para prevenir danos às sementes na germinação.
As afirmações generalizadas sobre a frequência da calagem são provavelmente inadequadas. Muitos fatores estão envolvidos. A melhor maneira para se determinar a necessidade de uma nova calagem, é analisando-se o solo. As amostras de solo devem ser feitas a cada três ou cinco anos - mais frequentemente em solos arenosos. Os seguintes fatores influenciarão a frequência da calagem:
Textura do solo - Os solos arenosos precisam receber nova calagem com mais frequência do que os solos argilosos;
Dose de adubação nitrogenada - Altas doses de adubos NH4+ (amoniacais) geram considerável acidez;
Taxa de remoção pelas culturas - As leguminosas removem mais Ca e Mg do que as não leguminosas;
Quantidade de calcário aplicada - Doses mais elevadas normalmente significam que o solo não necessita de nova calagem com frequência. Não abuse do calcário.

 COMO CALCULAR A NECESSIDADE DE CALCÁRIO?

Considerando os resultados de análise de solo de uma propriedade da região de Pirassununga (SP): pH CaCl2 = 5,3; Ca = 12 mmolc/dm3; Mg = 5 mmolc/dm3; Soma de Bases (SB) = 27 mmolc/dm3; CTC = 78 mmolc/dm3; Al = 13 mmolc/dm3; V1 = 34%.
Para implantação de uma pastagem de braquiarão (Brachiaria brizantha), gramínea do Grupo II, a saturação de bases a ser atingida (V2), de acordo com os dados na Tabela 2 é 60%. Utilizando-se o calcário dolomítico com PRNT de 65%, a partir do método da elevação da saturação de bases tem-se:


Em São Paulo, a tonelada do calcário dolomítico custa por volta de R$ 27,00 (sem frete). Deste modo, 3,2 t/ha x 27,00 vão custar R$ 86,00/ha, sendo evidenciado o baixo custo do produto para a correção do solo, e os benefícios causados, comparado ao frete pago. Num raio de 50 -100 km, o frete custa aproximadamente R$ 45,00/t. Se cada carreta carregar 13 t, o custo do frete por carreta será de R$ 585,00. Somados, preços do produto (R$27,00 x 13 t) e do frete (R$45,00 x 13 t), teremos o equivalente por viagem de R$351,00 + R$585,00 = R$936,00/13 t. Assim, o produtor gastaria o equivalente a R$234,00/ha, considerando que para cada carreta de 13 t., 4,06 ha seriam corrigidos.
Para o cálculo do custo do calcário colocado na propriedade, em R$/%PRNT (reais por unidade percentual de PRNT), há a necessidade de se usar a seguinte fórmula:


Onde:
FC = Fórmula para comparar custo de calcário (R$/%PRNT)
PC = Preço do calcário (R$)
PF = Preço do frete (R$)

PRNT = Poder Relativo de Neutralização Total (%)

Extração e determinação do cálcio, magnésio, potássio e sódio

Os quatro elementos trocáveis de maior importância no solo são os seguintes: cálcio, magnésio e potássio, por serem macronutrientes, e sódio, por ser parte importante do complexo coloidal de solos salinos e alcalinos. Na Seção de Pedologia, utilizou-se por muito tempo o ácido nítrico 0,05 N (PAIVA NETTO et al., 1946) para a extração dos cátions trocáveis. Entretanto, com o uso constante de calcário nas terras, notou-se que esse extrator dissolvia parte do corretivo, dando resultados muito elevados de cálcio e magnésio em terras reconhecidamente pobres nesses elementos, como as areias quartzosas. Assim, a partir de 1981,optou-se por um extrator largamente adotado (USDA, 1967; SNLCS, 1979), o acetato de amônio 1 N pH 7,0: entre outras vantagens, apresenta a de não deixar resíduos sólidos em fotometria de chama.

Objetivo: extração de cálcio, magnésio, potássio e sódio trocáveis do solo e sua determinação.

Princípio: extração dos elementos trocáveis com solução normal de acetato de amônio pH 7,0 e determinação dos seus teores no extrato.

Aparelhagem: espectrofotômetro de absorção atômica, fotômetro de chama e agitador mecânico.

Reagentes e soluções:
a) Solução de acetato de amônio 1 N pH 7,0: em balão volumétrico de 1 litro, juntar 57 ml de ácido acético glacial e 69 ml de hidróxido de amônio a 20 %, em 800 ml de água. Ajustar o pH e completar o volume;
b) Solução-estoque de lantânio a 10 %: umedecer 117,30 g de La2O3 com água. Lentamente, adicionar 250 ml de ácido clorídrico concentrado, completar o volume a exatamente 1 litro com água destilada e deionizada;
c) Solução de lantânio a 0,2 %: pipetar, para balão volumétrico de 1 litro, 20 ml de solução-estoque de lantânio a 10 % e completar o volume com água deionizada. Para a leitura dos extratos, visando à determinação de Ca e Mg, considerando o modo de preparar os padrões, efetuar uma diluição prévia da solução de La2O3 0,2 % de lantânio, misturando 400 ml dela com 50 ml de água deionizada, resultando numa solução de La2O3 a 0,177 % de lantânio.
d) Soluções-padrão de cálcio e de magnésio:
Solução com 1.000 μg/ ml de cálcio: pesar 2,4966 g de CaCO3 e transferir para balão volumétrico de 1 litro contendo metade do seu volume com água deionizada. Adicionar 10 ml de ácido clorídrico concentrado (gota a gota), esperar a solubilização do sal e completar o volume com água destilada e deionizada.
Solução com 1.000μg/ ml de magnésio: pesar 1,000 g de magnésio metálico, transferir para balão volumétrico de 1 litro e adicionar 10 ml de ácido clorídrico 6 N (destilado), completando o volume com água destilada e deionizada.
Solução com 100 μg/ ml de magnésio: transferir 100 ml da solução-estoque de magnésio com 1,0004 g/ ml para balão volumétrico de 1 litro e completar o volume com água deionizada.
A partir das soluções-estoque de Cal' 1.0004g/ ml e Mg2' 1004g/ ml, preparar as soluções I, II e III:
I: tomar 10 ml da solução de Cal' e 12 ml da solução de Mg2' e diluir a 100 ml com água deionizada;
II: tomar 10 ml da solução de Cal' e 12 ml da solução de Mg2' e diluir a 200 ml com água deionizada;
III: tomar 50 ml da solução II e diluir a 100 ml com água deionizada.
Essas soluções contêm 100 (I), 50 (II) e 25 (III) pg/ ml de Cal` (ou 5, 2,5, 1,25peq/ ml de Cal +) e 12 (I), 6 (II) e 3 (III) 4g/mi de Mg2' (ou 1, 0,5 e 0,25 peq/ ml de Mg2'). Para a elaboração da curva-padrão de cálcio e magnésio, empregando as soluções I, II e III, preparam-se as seguintes soluções:
0: 16 ml da solução de lantânio a 0,2 % + 2 ml da solução de acetato de amônio + 2 ml de água deionizada;
A: 16 ml da solução de lantânio a 0,2 % + 2 ml da solução de acetato de amônio + 2 ml da solução III;
B: 16 ml da solução de lantânio a 0,2 % + 2 ml da solução de acetato de amônio + 2 ml da solução II;
C: 16 ml da solução de lantânio a 0,2 % + 2 ml da solução de acetato de amônio + 2 ml da solução I.
e) Soluções-padrão de potássio e de sódio:
Solução-estoque de potássio 0,0125 N: dissolver 0,4660 g de cloreto de potássio em água deionizada e completar o volume a 500 ml.
Solução-estoque de sódio 0,0125 N: dissolver 0,3652 g de cloreto de sódio em água deionizada e completar o volume a 500 ml.
Para ambos os cátions, tomar as seguintes proporções de solução para a elaboração das curvas-padrão:

 

Procedimento: pesar 5 g de TFSA em erlenmeyer de 125 ml, adicionar 50 ml da solução de acetato de amônio 1 N pH 7,0 e agitar mecanicamente por dez minutos. Deixar decantar dezesseis horas e com uma pipeta retirar aproximadamente 10 ml do sobrenadante e transferir para frasco de 25 ml. Transferir (com micropipeta) 0,5 ml desse extrato para frasco de 15 ml e adicionar com repipetador 4,5 ml da solução de óxido de lantânio a 0,177 % de lantânio (400 ml da solução de La2O3 a 0,2 % + 50 ml de água deionizada. Com auxílio do espectrofotômetro de absorção atômica, efetuar as leituras para determinação de cálcio e magnésio. No extrato que sobrou no frasco de 25 ml, fazer as leituras para determinação de potássio e sódio.

Cálculos: traçar a curva-padrão e determinar o fator para converter as leituras para a unidade desejada (geralmente meq/100g de solo ou ug/g de solo). Um procedimento mais correto é usar análise de regressão. 

Comentários: as determinações do cálcio e do magnésio podem também ser feitas por quelatometria, usando-se o EDTA como agente complexante. Para detalhes do método, consultar RAIJ (1966b).