A grande
maioria dos solos brasileiros, notadamente
aqueles
em que estão ocorrendo a expansão da fronteira agrícola,
como os
solos sob cerrados, apresenta características de acidez,
toxidez
de Al e/ou Mn e também baixos níveis de Ca e Mn.
Para
incorporação destes solos ao processo produtivo brasileiro,
é imprescindível
a correção desses problemas através da prática da calagem que é a maneira mais
simples para atingir este objetivo.
Além do
mais, o calcário é um insumo relativamente barato, abundante
no País,
essencial para o aumento da produtividade, de tecnologia de produção simples e,
sobretudo, poucas práticas agrícolas dão
retornos tão elevados a curto prazo.
A calagem é considerada como uma das práticas
que mais contribui para o aumento da eficiência dos adubos e consequentemente,
da produtividade e da rentabilidade agropecuária. Apesar deste fato, ela ainda
é subutilizada, tendo em vista a pouca informação recebida a nível de campo,
pelos lavradores.
PORQUE
OS SOLOS ÁCIDOS DEVEM RECEBER CALAGEM ?
A acidez do solo afeta o crescimento das plantas
de várias formas. Sempre que o pH é baixo, um ou mais efeitos podem afetar o
crescimento das culturas:
1 - Concentração de elementos tais como o Al e o
Mn, podem atingir níveis tóxicos, porque sua solubilidade aumenta nos solos
ácidos;
2 - Os organismos responsáveis pela decomposição
da matéria orgânica e pela liberação de nitrogênio, fósforo e enxofre podem
estar em pequeno número e com pouca atividade;
3 - O Ca2+ pode ser deficiente quando
a CTC do solo é baixa. O mesmo pode acontecer como o Mg;
4 - A fixação simbiótica de N pelas leguminosas
é severamente reduzida. A fixação simbiótica requer uma amplitude de pH mais
estreita para o crescimento ótimo das plantas do que no caso de plantas não
fixadoras de N. A bactéria simbiótica da soja é mais eficiente em pH variando
de 6,0 a 6,2.
5 - Os solos argilosos, com alta acidez, são
menos agregados. Isto causa baixa permeabilidade e aeração, um efeito indireto,
motivo pelo qual os solos que receberam calagem produzem mais resíduos das
culturas. Os resíduos favorecem a estrutura;
6 - A disponibilidade de nutrientes como o P e o
Mo é diminuída.
A calagem dos solos ácidos corrige essas
condições anteriores. Ela também diminui a tendência de lixiviação do potássio.
Os calcários magnesianos e dolomítico fornecem cálcio e magnésio, sendo ambos
essenciais para o crescimento das plantas.
COMO O
CALCÁRIO REDUZ ACIDEZ DO SOLO?
Os processos e as reações pelos quais o calcário
reduz a acidez do solo são muito complexos, mas uma simplificação é apresentada
a seguir:
Como foi mencionado anteriormente, o pH de um
solo é uma expressão da atividade do íon H+. O calcário reduz a
acidez do solo (eleva o pH) pela conversão de alguns desses íons H+ em
água.
A reação
acontece assim:
Solo-H
+ CaCO3 ? Solo-Ca + H2O + CO2
Lembre-se de que o inverso desse processo também
pode ocorrer. Um solo ácido pode tornar-se mais ácido se um programa de calagem
não for seguido. À medida que os íons básicos como Ca2+, Mg2+
e K+ são removidos, geralmente por absorção pelas culturas, eles podem
ser substituídos por H+. Estes íons básicos também podem ser
perdidos por lixiviação, novamente sendo substituídos por H+. A
atividade do H+ aumentará continuamente, abaixando o pH do solo, se
não for feita a calagem adequada.
ÉPOCA E
FREQUÊNCIA DAS APLICAÇÕES DE CALCÁRIO
Para rotações que incluem leguminosas, o
calcário deve ser aplicado entre três a seis meses antes da semeadura,
especialmente em solos muito ácidos. A calagem feita poucos dias antes do plantio
da alfafa ou do trevo, por exemplo, geralmente produz resultados decepcionantes,
porque o calcário pode não ter tido tempo suficiente para reagir com o solo.
Se uma leguminosa como o trevo é plantada após o
trigo de outono, o calcário deve ser aplicado no plantio do trigo. Independente
da cultura, o calcário deve ser aplicado com a devida antecedência ao plantio
para permitir a reação com o solo.
As formas cáusticas de calcário (óxido de cálcio
e hidróxido de cálcio) devem ser espalhadas com bastante antecedência ao
plantio para prevenir danos às sementes na germinação.
As afirmações generalizadas sobre a frequência
da calagem são provavelmente inadequadas. Muitos fatores estão envolvidos. A
melhor maneira para se determinar a necessidade de uma nova calagem, é
analisando-se o solo. As amostras de solo devem ser feitas a cada três ou cinco
anos - mais frequentemente em solos arenosos. Os seguintes fatores influenciarão
a frequência da calagem:
Textura
do solo - Os solos arenosos precisam receber nova calagem com mais frequência
do que os solos argilosos;
Dose de
adubação nitrogenada - Altas doses de adubos NH4+
(amoniacais) geram considerável acidez;
Taxa de
remoção pelas culturas - As leguminosas removem mais Ca e Mg do
que as não leguminosas;
Quantidade
de calcário aplicada - Doses mais elevadas normalmente significam
que o solo não necessita de nova calagem com frequência. Não abuse do calcário.
COMO
CALCULAR A NECESSIDADE DE CALCÁRIO?
Considerando os resultados de análise de solo de uma propriedade da
região de Pirassununga (SP): pH CaCl2 = 5,3; Ca = 12 mmolc/dm3; Mg = 5
mmolc/dm3; Soma de Bases (SB) = 27 mmolc/dm3;
CTC = 78 mmolc/dm3; Al = 13 mmolc/dm3;
V1 = 34%.
Para implantação de uma pastagem de braquiarão (Brachiaria brizantha),
gramínea do Grupo II, a saturação de bases a ser atingida (V2), de
acordo com os dados na Tabela 2 é 60%. Utilizando-se o calcário dolomítico com
PRNT de 65%, a partir do método da elevação da saturação de bases tem-se:
Em São Paulo, a tonelada do calcário dolomítico custa por volta de R$
27,00 (sem frete). Deste modo, 3,2 t/ha x 27,00 vão custar R$ 86,00/ha, sendo
evidenciado o baixo custo do produto para a correção do solo, e os benefícios
causados, comparado ao frete pago. Num raio de 50 -100 km, o frete custa
aproximadamente R$ 45,00/t. Se cada carreta carregar 13 t, o custo do frete por
carreta será de R$ 585,00. Somados, preços do produto (R$27,00 x 13 t) e do
frete (R$45,00 x 13 t), teremos o equivalente por viagem de R$351,00 + R$585,00
= R$936,00/13 t. Assim, o produtor gastaria o equivalente a R$234,00/ha,
considerando que para cada carreta de 13 t., 4,06 ha seriam corrigidos.
Para o cálculo do custo do calcário colocado na propriedade, em R$/%PRNT
(reais por unidade percentual de PRNT), há a necessidade de se usar a seguinte
fórmula:
Onde:
FC = Fórmula para comparar custo de calcário (R$/%PRNT)
PC = Preço do calcário (R$)
PF = Preço do frete (R$)
PRNT = Poder Relativo de Neutralização Total (%)